Capítulo 67

Parei de falar ao ver que ela estava chorando, só então percebi todas as burrices que eu tinha dito. “Manu, me desculpa... Eu to de cabeça quente, não deveria ter dito nada disso...” Passei as mãos pelo rosto.

“SAI DAQUI! AGORA!” Ela secou as lágrimas que não paravam de cair. “VAI COMER SUAS GOSTOSAS, EU NÃO TO MAIS NO SEU CAMINHO! ME ESQUECE, SIMPSON!”

“Manuela...”

“SAI DA MINHA CASA!”

“Me perdoa...” Abaixei a cabeça.

Saí da casa, mas saí contrariado, eu queria ficar lá, abraçar ela e pedir desculpas até ela realmente me desculpar... Não queria ter dito nada disso, mas saiu... Jake tinha razão, eu deveria ter esperado as coisas se acalmarem entre nós antes de falar com ela. Ao chegar em casa, Alli já me rodeou de perguntas, eu a ignorei e subi, no topo na escada minha mãe também veio com perguntas, ignorei e segui pro quarto.

~POV Manuela Albuquerque~

Escorei pela bancada e parei no chão com a cabeça apoiada nos joelhos. Agora sim eu estava perdida, estava sem chão, sem estrutura, sem nada... Eu nunca esperava ouvir tudo isso saindo da boca dele. Por um momento parei pra pensar se ele só disse da boca pra fora, mas mesmo se tivesse sido não justifica... Queria conseguir ser forte como quando ele cantou com a Stella, pelo menos aparentar ser, mas era quase impossível... Eu já estava machucada por isso e agora pelas palavras dele, era mais do que eu poderia suportar. Gabe veio até a cozinha, ele deve ter ouvido nossa discussão, quer dizer, até nossos vizinhos devem ter escutado. Ele sentou ao meu lado e me abraçou.

“Não liga pro que ele disse, irmã.”

“Você ouviu tudo?”

“Ouvi... Não liga, ele ta de cabeça quente, pode ter sido da boca pra fora.”

“Já pensei nisso, mas eu não sei... Ele disse de forma muito natural, como se já estivesse ensaiado há muito tempo.”

“No nervosismo sai tudo de forma natural.”

Funguei pra tentar parar de chorar. “Irmãozinho, eu vou subir pra descansar... Qualquer coisa me chama, okay?”

“Okay, fica bem.”

“Vou ficar.” Dei um pequeno sorriso e levantei.

Logo que entrei no quarto, meu celular começou a tocar. Não atendi, nem quis saber quem era. Diminui volume dele pelo botão do lado e me joguei na cama. Vi o ursinho que ele tinha me dado há duas semanas e o abracei, chorei mais ainda... Eu não conseguia controlar meu choro, minha cabeça já estava estourando. Fui até a cozinha tomar um remédio pra dor de cabeça e uma água com açúcar pra parar de chorar, deu resultado. Consegui me acalmar um pouco. Subi de volta e me sentei na beirada da janela (aquelas janelas de filmes americanos, sabem?) e logo que olhei pra casa dos Simpsons, Cody estava na janela de seu quarto, olhando em direção à minha janela. Era impossível eu conseguir sair dali, uma força maior que minha vontade me prendia ali, paralisada na janela com o olhar em direção ao dele. Ele também não me parecia bem, mas antes que eu pudesse pensar nisso, as palavras que ele me disse anteriormente vieram em mente de novo. Consegui sair de lá, fui tomar um banho e logo adormeci.

~POV Alli Simpson~

Liguei por diversas vezes pra Manu pra tentar saber o que aconteceu, já que o Cody não me disse, mas ela não atendia... Pensei em ir até a casa dela, mas se ela não queria atender talvez não quisesse falar com ninguém... Fiquei por um tempo no telefone com Jake, jantei e fui dormir. No outro dia a Manu não estava no colégio...

“Cody, o que você fez pra minha amiga?”

“Eu fui um idiota, só isso...”

“O que você fez? Disse? AAH! Me fala.”

“Não vou falar nada, não quero falar sobre isso.”

“O que ta acontecendo?” Jake perguntou ao se aproximar de nós, depois de ter ido comprar um suco.

“Seu amigo não quer me dizer o que fez pra Manu estar mal.”

“Alli, me deixa quieto porra!” Ele se afastou de nós.

“Não entendi...”

“Ai amor, o que será que ele disse ou fez pra minha amiga?”

Ao entrarmos na sala mandei uma sms pra ela.

Alli: “Amiga, como você está? O que aconteceu?”

Manu: “Depois eu te conto o que aconteceu... To tentando ficar bem...”

Alli: “Okay, onde você ta?”

Manu: “Em casa... Vou descansar um pouquinho e depois vou pra consulta, consegui marcar.”

Alli: “Que bom, amiga! Quando chegar vai lá pra minha casa, pode ser?”

Manu: “Desde que o Cody não esteja lá...”

Alli: “Vou falar com o Jake pra sair com ele, ele não ta muito bem... Depois te falo se eles vão sair, se não forem eu vou pra sua casa.”

Manu: “Okay... Depois a gente se fala, xoxo”

“Senhorita Simpson, pode guardar o celular?”

“Desculpa professor...” Guardei o celular.

No intervalo, falei pro Jake falar com meu irmão na casa dele e ele aceitou. Quando a aula acabou, Cody levou eu, Tom e Jake, deixou o carro em casa e foi a pé com Jake pra casa dele. 15h minha mãe chegou e em seguida a Manu chegou com um envelope nas mãos, ela estava com os olhos inchados... Abracei ela e nós sentamos no sofá.

“E ai amiga? O que deu?”

“Isso eu te conto no shopping...”

“Okay, e o que aconteceu ontem?”

Ela respirou fundo. “Quando você saiu ele começou a pedir desculpas e tudo, depois nosso papo se virou pros garotos no cursinho e ele começou a dizer tudo que estava entalado, eu acho... Ele disse que eles só querem me comer, como ele queria quando me conheceu, que eles me achavam uma vagabunda...” Ela olhou pra cima e depois continuou falando. “Ele disse que aliança de compromisso não era pra ele, nem cantar na frente de um monte de gente e, muito menos, me pedir perdão... Também que ao invés de ter fugido comigo... Ele deveria ter ficado aqui comendo umas gostosas, eu nunca saberia disso, segundo ele.” Desabou em lágrimas.

Abracei ela novamente. “Ai amiga, eu não acredito que ele disse isso... Mas deve ter sido da boca pra fora, você não acha?”

“Não sei...” Ela limpou as lágrimas.

Minha mãe veio da cozinha e a Manu tentou melhorar a cara de choro. “Vocês vão sair, meninas?”

“Vamos até o shopping, porque mãe?”

“Eu ia te pedir pra ficar com o Tom, tenho que colocar gasolina no carro do seu irmão.”

“A gente leva o carro pra colocar gasolina, né amiga?”

“Não sei, Alli...”

“Sim, nós levamos.”

Ela entregou as chaves do carro e o dinheiro da gasolina pra Manu. “Obrigada meninas e, Manu, sinto muito por vocês...”

Manu suspirou. “Eu também...”

“Tomem cuidado por aí, okay?”

“Okay.”

O carro estava dentro da garagem e antes de sairmos ela me entregou o envelope. Abri e procurei a resposta, como eu já esperava, estava positivo.

“Viu?”

“Vi, parabéns!” Abracei ela.

“Tinha que ser logo agora, né? Eu não queria nem olhar na cara dele, mas vai ser meio difícil... A menos que você conte por mim.” Ela disse enquanto apertava o botão pra abrir a garagem.

“Claro que não, isso é entre vocês dois. Não vai ser o mesmo se eu contar pra ele e do mesmo jeito ele vai ir falar com você ou acha que ele vai falar ‘Ah, okay, não estamos nos falando mesmo’? Meu irmão não é assim, amiga. Ele vai falar com você de qualquer jeito, então você fala. Isso eu não vou fazer por você, desculpa.”

“Tudo bem, vai... Eu falo com ele, mas daquele jeito que você disse, por isso estamos indo pro shopping.”

Ela saiu com o carro, deixamos os vidros fechados e ligamos o ar condicionado de dentro, estava um pouco quente e não tinha vento. O posto era longe de casa, tínhamos que passar a ponte perto do fim da praia, aquela estrada era meio deserta e hoje não estava diferente. Estávamos há 2km da ponte quando percebi que o carro, que tinha saído da rua de casa junto com a gente, estava nos seguindo... Falei pra Manu e ela acelerou, o carro também acelerou e começou a bater na traseira do carro. Eu e ela começamos a nos desesperar.

“Amiga, o que ta acontecendo? Porque ele ta batendo?”

“Não faço ideia, amiga. Arruma seu cinto se ele estiver sem prender.” Ela colocou uma mão no volante e com a outra arrumou o cinto.

Arrumei meu cinto também e as batidas continuaram. Já estávamos muito rápido quando a batida foi muito forte e a Manu perdeu o controle, pois estávamos na curva. O carro capotou e o que nos seguia saiu em disparada. Os airbags e o cinto me  impediram de desmaiar, mas eu estava em choque... A Manu tinha desmaiado pela gravidez, eu acho... Nós duas estávamos com a testa sangrando e o braço dela também estava, por ela estar dirigindo, já que o vidro da frente estourou. Consegui esticar o braço e desligar o carro e com o outro eu peguei meu Iphone, disquei pra ambulância e disseram que logo chegariam. Agora, todos os carros que passavam paravam pra ver o que tinha acontecido. As ambulâncias chegaram e pareciam ter demorado uma eternidade, eu já não aguentava mais ficar de cabeça pra baixo e ver a Manu desmaiada com uma multidão do lado de fora me perguntando se eu estava bem... Manu foi em uma ambulância e eu na outra... Estava com muito medo de ela perder o bebê, pelo impacto ou pelo susto... Desde ai não vi mais ela, levei 4 pontos na testa e me deram alta depois de ver que estava tudo bem. Falei com o doutor sobre a gravidez da Manu e ele disse que examinaria, mas não me deixou vê-la. Ao chegar na recepção me pediram o telefone de casa e o da casa dela.

~POV Cody Simpson~

“Que tal se formos até a praia pegar uma onda? Vai te deixar melhor, broh.”

“Errado, nada vai me deixar melhor... Só falar com ela.”

“Então vai falar com ela, pede desculpas. Hoje ela nem foi pro colégio, deve estar mal mesmo...”

“Ta me deixando muito melhor com isso.” Revirei os olhos.

“Desculpa.”

“Broh, eu to com um pressentimento ruim desde ontem...”

“Você acha que vai acontecer algo ruim?”

“Não sei... Já é a segunda vez.”

Meu Iphone tocou e vi que era de casa.

~Ligação Onn~

“Alô?”

“Filho, onde você ta?”

“Na casa do Jake, porque?”

“Vem pra casa, se quiser ir pro hospital comigo.”

“Hospital? Como assim, mãe? O que aconteceu?”

“Sua irmã e a Manu capotaram com o carro, não sei como estão... Então se quiser ir comigo vem pra casa rápido.”

“Em 5 minutos eu chego aí, me espera.”

~Ligação Off~

Levantei do sofá e fui até a porta.

“Aonde você vai? E que negócio é esse de hospital?”

“Não dá tempo de explicar. 5 minutos pra chegar em casa, topa?”

“Bora.”

Ele trancou a porta e nós fomos praticamente correndo.

[...] Chegamos no hospital e minha irmã, Marie e Gabe já estavam lá. Senti meu corpo estremecer ao não ver a Manu com a Alli. Jake a abraçou.

“Tudo bem, meu amor?”

“Tudo, só 4 pontos na testa.”

“Me explica o que aconteceu.” Minha mãe pediu.

“Um carro tava seguindo o carro do Cody, perto da ponte ele começou a bater na traseira, a Manu acelerou e capotamos na curva.” Fez uma pausa. “Me desculpa pelo carro, Cody...”

“Tudo bem, não estou ligando nem um pouco pro carro, o importante é vocês estarem bem.” Suspirei. “Cadê a Manu?”

Estava com medo da resposta da Alli, eu não me perdoaria se algo acontecesse com ela, ainda mais por estarmos brigados...

“Ela ta sendo examinada e acho que vai levar pontos na testa e no braço.”

Minha mãe foi, junto com Marie, tentar falar com um médico.

“Você já viu ela? Ela ta bem?”

“Calma Cody... Eu acho que ta.”

“Ele teve pressentimentos ruins, por isso ta preocupado...” Jake disse.

“Mas você já viu ela?”

“Não, só falei com o doutor sobre uma coisa e ele foi examiná-la.”

“Que coisa?”

“Depois vocês vão saber.”

Comecei a andar de um lado para o outro e, em fim, o médico veio pra sala de espera liberar a entrada de visitas. Todos eles foram antes de mim, queria ir por último pra poder conversar com ela por mais tempo. Ao entrar no quarto, ela estava sentada na cama olhando pela janela, não me ouviu entrar.

“Manu?” Cocei a nuca um pouco sem jeito.

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